EM BUSCA DA VERDADE
O que mais se faz nesse Brasil é criar novas leis ao sabor do
respectivo momento que renda notoriedade aos idealizadores. Já
cumpri-las é outra difícil coisa.
Pois não é que o projeto de
lei 7673/2010 fora aprovado por votação simbólica, sem a devida
conferência de votos, instituindo a “Comissão Nacional da Verdade”
composta por sete membros, número cabalístico que integra o tempero da
proposta presidencial!
De acordo com o texto divulgado
publicamente, a comissão de nobres autoridades brasileiras seriam “de
reconhecida idoneidade e conduta ética, identificadas com a defesa da
democracia e institucionalidade constitucional, bem como com o respeito
aos direitos humanos”, fato incontroverso.
O divulgado
objetivo seria, então, a elaboração de um relatório, para apresentar
conclusões sobre episódios com tortura, sumiço e morte de opositores ao
regime militar brasileiro dos anos 1964 a 1988.
Detalhe
intrigante fora a entrevista do petista José Genoíno anunciando que “nós
temos hoje o referendo dos comandantes militares para votar o texto da
Comissão da Verdade do jeito que está”, sob a coordenação do ministro da
Defesa, Celso Amorim. Como se os chefes das armas brasileiras não
exercessem cargos comissionados...
Em meio às discussões sobre
a matéria, temos que os eventuais crimes praticados no período da
ditadura brasileira carecem do poder de punir, ficando à margem do
conhecimento do Poder Judiciário nacional. Assim, um esforço apenas
histórico!
Além do mais, apenas dois anos de reuniões de
pessoas ocupadíssimas, a exemplo do ilustre ministro Gilson Dipp do
Superior Tribunal da Justiça, do diplomata Paulo Sérgio Pinheiro e do
advogado militante José Carlos Dias, ex-ministro da justiça seria muito
pouco tempo.
As provas reais a serem debruçadas nos colos dos
doutos membros da referida comissão demandarão muito mais, que o próprio
tempo de vigência da comemorada comissão verdadeira, para mostrar os
seus primeiros resultados.
Nietzsche, didaticamente, ensina
que a verdade é um mero ponto de vista. Ele não chega a definir e
aceitar conceituação da verdade, porque entende não ser possível
alcançar uma certeza sobre a definição do oposto da mentira.
Os filósofos admitem que a verdade seja a simplória interpretação mental
daquilo que é valorizado pelos sentidos humanos e, confirmado ou não
por outros seres humanos. O que é verdade para uns não é reconhecido por
outros...
Não vislumbro a alardeada maioria do povo
brasileiro no reconhecimento da “comissão da verdade” formada pela
presidenta Dilma, até porque ela
garantiu publicamente sua presunção de que “não tenham medo, eu vou ser bastante firme na área de direitos humanos”.
Os famigerados “anos de chumbo” do período militar brasileiro serão
exumados da memória forçando um reabrir feridas saradas e já esquecidas,
como a polêmica “lei da anistia”.
A desejada harmonia entre
passado e presente, envolvendo atos políticos da direita e da esquerda,
reacenderá momentos desagradáveis de desvio da ordem pública nacional
para a discussão estéril e histérica das ideologias ultrapassadas.
“Comissão da Verdade”, instituição com rótulo de autoritarismo e
demagogia bem merecia outra denominação com objetivos práticos e
permanentes, até porque a verdade é sempre relativa.
Advogado e desembargador aposentado
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