UM AMOR À DISTÂNCIA
Sempre tive medo de não ser correspondido no amor. Talvez um pouco de vaidade, porque dando certo seria mais uma conquista e, sendo desprezado balançava meu ego na direção do chão. Por isso me considero tímido!
Ela tinha hora certa de aparecer, sempre linda e sem qualquer maquiagem, numa demonstração de autoconvencimento do que era visto aos olhos de todos. Já o perfume era a natureza exalando suas mais diversas flagrâncias inebriantes.
Uma ponta de incontido ciúme desviava minha atenção, na corrida desenfreada pelo encontro furtivo. Arregalei os olhos para melhor distinguir os mínimos detalhes da beleza. Não apenas imaginava, mas tinha consciência de que todos a desejavam!
O momento exato se aproximava! Olhar fixo nos ponteiros do relógio na súplica de antecipar o grande rival da vida, o próprio tempo. Inquieto e ansioso esperava que os ponteiros do relógio se distanciassem para marcar seis horas da noite. Era o momento de despertar do sonho. Prostrei-me convicto no doce momento do amor, com olhos arregalados e fixos, no esforço supremo vê-la aparecer, vinda do longe...
O desespero me fez novamente imaginar se tratar do delírio do amor de jovem amadurecido com o passar dos tempos, sem conseguir consumar a conquista sonhada e acalentada.
Encostei-me a balaustrada da minha laje podendo descortinar do alto todos os movimentos da chegada do meu amor.
Sozinho, sem ninguém por perto, mergulhei em instantes de profunda solidão, não suportando a lágrima fugida dos meus olhos. Desconsoladamente a demora temporal conspirava contra minha vontade!
Finalmente, como num passe de mágica, as nuvens se afastaram lentamente num balé invisível deixando o caminho aberto para a consumação do amor!
Pouco importava a insistência dos concorrentes em também olhar a beleza incomparável da dona do meu coração, superava-me com garra e destemor de conquistá-la, selando amor perpétuo.
O coração aumentou as batidas acelerando além do normal; passei a mão pelos olhos e testa como a descortinar o véu do sonho, em ponto de não decepcionar pela minha frágil aparência. Ajeitei com os dedos meus cabelos assanhados pela minha impaciência.
Fiquei estatelado quando alcancei o reflexo da luminosa cabeleira loura solta aos ventos, caminhando docemente ao meu encontro deixando minha pele umedecida e quente, mesmo ao sabor do vento soprando.
Estiquei mais o pescoço desnudando o corpo ardente dela, sem esconder todo o corpo arredondadamente feminino seguir lentamente em minha direção, como a desafiar-me...
Abri um sorriso tímido para a rainha dos meus sonhos! Aproximou-se cada vez mais espargindo fluidos de uma paz realizadora.
Sem que notasse, me toquei na realidade. Fui levado a me convencer que ainda não seria naquele encontro a consumação romântica do amor. Inopinadamente sofri na passagem da carruagem dos sonhos levando aos céus a imagem resplandecente da lua, para subir até o centro do mundo. Chorei... Porém, com o consolo de que ela nunca será de ninguém!
MARCOS SOUTO MAIOR
Advogado e desembargador aposentado
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