VÍCIO DO CIGARRO

BLOG DE WILLIAM SANTOS | 9/10/2013 01:59:00 PM | 0 comentários

O vício do cigarro já foi muito forte, em todos os níveis da sociedade, indo desde o cigarro de palha onde as pessoas pobres saciavam seus desejos até o maço prontinho de vinte cigarros, com embalagens luxuosas e coloridas, até com filtros de algodão.
Há quem diga que o cigarro feito em casa envolve uma ampla encenação teatral, iniciada pela escolha, nas tradicionais feiras públicas ou antigas mercearias, do pedaço de rolo preto de fumo, também chamado de tabaco, que soltava um odor natural e bem especial. Transferindo de pai para filho, o fumante se sentava de cócoras ou, num tamborete baixinho de maneira, e começava cortando em pedacinhos secos e picados com canivete amolado, em seguida salpicando vagarosamente no leito de um papel fino para dar forma cilíndrica. A ponta da língua molhada do fumante serve de cola para fechar a peça, cada qual escolhendo a intensidade das lambidas!
Uma das pontas do cigarro popular é sempre amassada para evitar desenrola-lo, e também para encostar os lábios puxando a fumaça quente que enche a boca inteira do viciado. Alguns apenas puxam o fumegar, outros sugam fazendo o trago que vem a ser o engolir vapores exalados. Estando em casa, o fumante vai até a cozinha, toma um gole de café requentado numa garrafa térmica, finalmente, acende a cativante obra de arte no fogão, aspirando com satisfação, para depois expelir a fumaça, tanto pelo nariz como pela boca...
Enquanto garoto, entre os doze ou mais anos, por vaidade e incentivo dos outros comprava um maço do popular cigarro Hollywood, me mostrando as meninas da época, mas nunca gostei de fumar.
Marcas como Carlton, Lucky Straik, Minister, Charme, Hilton, Ritz, Astoria, Plaza, todos da maioria fabricada pela poderosa Souza Cruz, fundada em 1903 circulavam em bancas de jornal, barracas de cachorro quente, clubes sociais, enfim em todo canto.
Uma tia minha gostava sempre de um cigarrinho depois do almoço e seus sobrinhos não suportavam o cheiro daquela fumaça. Certo dia celebrou um plano diabólico para amedrontar a viciada que soltava baforadas incensando toda a casa!
Com ajuda de outro tio, este muito engraçado, compraram na feira algumas gramas de espoletas de espingarda soca. Cuidadosamente tiraram do maço menos da metade do fumo e em cada cigarro foram inseridas duas ou três espoletas, depois cuidadosamente era completado o cigarro. Operação desenvolvida, toda a família fora avisada e as apostas eram sucessivas em torno de quantos estalos seriam dados.
Num domingo de reunião familiar, todos se serviram bem e, inventaram um demorado cafezinho e, como o vício sempre vence o viciado, a velha tia, de repente, pediu licença e desapareceu da sala de estar. A torcida ficou silenciosa e era tudo que precisa na grande lição da prática antitabagista e o suspense predominou entre todos familiares, menos a fumante! Passados cinco minutinhos, estrondosos tiros de espoletas ecoaram no banheiro da casa, completado pela quebradeira de tudo que tinha em cima da bancada da pia, com frascos
de perfume, loções, copos, saboneteira, xampu e outros objetos do quarto do casal. Em meio à gritaria dos sobrinhos e demais familiares, lá apareceu a tia gritando assustada, com os cabelos assanhados, e roupa seminua, correndo atarantada por toda casa, com um maço de cigarros apertado na mão, a pedir socorro. Lembro-me que valeu a lição, e o cigarro apagou!
MARCOS SOUTO MAIOR
Advogado e desembargador aposentado

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