Alexandre Moca publica crônica em homenagem a Antonio Camilo e lembra lendário coqueiro

BLOG DE WILLIAM SANTOS | 8/07/2014 06:15:00 PM | 0 comentários

UM CAVALO ALADO CHAMADO BLACK
Antonio Camilo

 Duvidaram ? Perderam o tempo ! Para a felicidade de Antônio Camilo, um fotógrafo atento registrou e alguém guardou. Com a foto amarelada na mão, fez amarelar os incrédulos que quase chegaram a apostar no contrário. O coqueiro, que por capricho da natureza ostentava quatro copas, existiu. Nasceu, cresceu e morreu em terras de Camarazal, a mesma terra que viu nascer Antônio e que o recebe de volta, depois de ter corrido o mundo, sem medo de viver, de morrer e, por lugar comum que pareça, sem medo de ser feliz. Quem teve a graça do convívio com Antônio, sabe que a sua magreza física era inversamente proporcional à largura dos seus gestos, principalmente quando se tratava de solidariedade e presteza. Na pressa, às vezes, descobria um santo para cobrir outro. Se com a sua própria pólvora não era econômico, porque seria com a alheia. O importante era socorrer o amigo em dificuldade. Nas décadas de 60 e 70, viveu a boemia do Rio, que lhe caiu como uma luva. Não foi mero observador dessa época, fazia parte da cena na qual transitou de figurante a coadjuvante. As histórias que trouxe, serviram de combustível para tantas outras que produziu. Com isso foi incluído, definitivamente, no real e no imaginário de Guarabira, onde viveu seu apogeu nos anos 80/90. Não recusava lutas nem as temia. As da política, então, eram as suas prediletas. Nelas atuava em quase todos os flancos, seja azedando com seu discurso um jantar servido no clube Cabo Branco para 400 talheres, talheres estes que seriam manejados pela fina flor da política paraibana, seja engalfinhado em confronto partidário, quase submerso em um mar de bandeiras das duas cores que representavam à época o pastoril político de Guarabira e que haviam entrado em curso de colisão. Não deve ser esquecido, neste particular, a vez em que rolou no chão da feira, agredido por uma verdureira a quem tentou convencer sobre a mudança de local do seu balaio. Este ainda não era Antônio de corpo inteiro. Multifacetado, passava em um instante pilotando uma moto niveladora, noutro uma pá carregadeira ou um trator de esteiras. Não havia máquina que fugisse à sua curiosidade e só não pilotou avião porque não lhe ofereceram. Certamente não recusaria. Contam que na aviação, limitou-se a um socorro mecânico ao governador José Maranhão, que ao errar o pouso no campo do Pirpiri, provocou um empeno na hélice da sua aeronave. Antônio, diligente, ajudou a retirar a peça e colocá-la em centro e prumo, com auxílio do mecânico Inocêncio, devolvendo, em seguida, o céu ao então governador/aeronauta. Vencia obstáculos que lhes eram impostos sem titubear, como da vez em que, perdido com Silvino Alves pelos caminhos vicinais de Mulungu que dão acesso à Larama, perguntou ao mesmo se em seu carro havia um alicate. De posse da ferramenta, rompeu o labirinto de arames farpados que ladeava a estrada para em seguida alcançar o seu objetivo de forma mais rápida. Das muitas histórias produzidas por Antônio Camilo, tive a oportunidade de testemunhar algumas. Certa vez, um pintor de automóveis, já meio embriagado, o abordou e pediu-lhe dinheiro para completar o próprio tanque. Sem hesitação ou arrodeio Antônio enfiou a mão no bolso e deu-lhe os únicos dez reais que possuía no momento. O pintor ensaiou recusar o dinheiro por se tratar do único que ele tinha no bolso, no que foi atalhado de forma afirmativa pelo doador: Toma esse dinheiro e vai tomar tua cerveja. Eu ainda tenho crédito e, pelo que sei, tu anda sujo no trecho. A morte, que para amainar a crueldade do inevitável é frequentemente comparada a uma viagem, traz-me à lembrança uma das cenas marcantes do filme O Sétimo Selo, de Igmar Bergman, onde um cavaleiro, em seu retorno das cruzadas, joga um partida de xadrez com a morte, esta personificada. Antônio já jogava essa partida de xadrez há algum tempo. Vinha vencendo, mas, o resultado desse jogo é conhecido por antecipação, não só para ele como para todos nós. Imagino Black, seu lendário cavalo, com o qual fez fama nas corridas de mourão, agora alado, em algum pasto verdejante, esperando para ser cavalgado novamente pelo seu cavaleiro preferido, pronto para alçar novas e infinitas dimensões.
 Alexandre Moca - 06.08.2014

Famoso Coqueiro de 4 copas

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