AS VAIAS

BLOG DE WILLIAM SANTOS | 10/01/2013 05:00:00 PM | 0 comentários

Desde os primórdios da vida, a vaia é instrumento forte, prático, avaliador e de repúdio contra pessoa ou grupos. São manifestações populares as quais, geralmente, desenvolvidas em avenidas e praças importantes do local escolhido. Também acontecem em recintos fechados, como teatros, ginásios poliesportivos, estádios de futebol, igrejas, auditórios, conchas acústicas dentre outros. Na verdade, o objetivo direto é gritar o famoso “Buuu” e chegar aos ouvidos do destinatário com consolidação nos anais da história universal.
Sem fixação histórica, contam que as vaias começaram na Grécia Antiga onde o povo se dividia entre aplauso e apupos nas execuções públicas. Muitas vezes, chegavam ao extremo de completarem a desaprovação, jogando ovos, tomates, laranjas, maçãs, etc!
Aqui no Brasil, embora exista o direito de acesso à informação, ainda tem quem defenda a amplitude de leis mais abertas ao conhecimento dos atos republicanos. De forma que, há direito previsto no Art. 5º, Inciso IX da Constituição Cidadão, em tese, garantindo a todos a liberdade de expressão do cidadão, inclusive, oralmente e no âmbito da comunicação. Não tenho medo de escrever que o direito à vaia é intocável pelo Congresso Nacional brasileiro.
Os apupos populares já tiveram presenças marcantes, ao tempo que governadores e prefeitos inauguravam tudo e mais alguma coisa: até uma simples faixa de tinta pintada que dividia os dois lados de uma estrada. As casas de conjuntos populares, como exemplo, são preciosidades disputadas entre governos, federal, estaduais e municipais, num prato feito para a eleição de 2014.
Com medo de turbas, tem sido muito comum, pessoas poderosas tentam amedrontar o direito de gritar do cidadão comum, contratando claques e seguranças para garantir deslocados de ônibus, caminhões, tratores e carros para o local da solenidade.
Tanto aqui quanto além-mares, o poderio e expansão da comunicação da vaia não poupam ninguém seja: solenidade de posse, aberturas de jogos, convenção partidária, anúncios dos órgãos públicos e, tudo ao vivo e a cores. Assim, o Primeiro Ministro Britânico, Sir David Cameron levou uma sonora vaia dos parlamentares da Câmara dos Comuns, por ter facilitado escutas ilegais e recebido propinas. O seu bombástico discurso teve que ser suspenso para restabelecimento da ordem.
Já o Presidente do Irã, Hassan Rohami, em visita diplomática aos Estados Unidos ousou conversar, por telefone, com nada menos o Presidente dos EUA, Barack Obama e, ao regressar para Teerã foi recebido por um misto de aplausos e vaias.
No nosso querido Brasil, a Presidente Dilma presidiu a solene abertura da Copa das Confederações da FIFA, recendo uma vaia tão grande que impediu, formalmente, que abrisse os trabalhos do importante conclave futebolístico. Aliás, seu antecessor Lula Inácio, também não ficou de fora das vaias do povo, durante a abertura dos Jogos Pan-americanos de
2007, ainda Presidente, foi em pleno Maracanã lotado, que tentou confundir tribuna de honra com mero palanque político, sendo abafado pelos gritos do coro dos descontentes.
E ainda tem gente que teima para acabar com o direito da vaia!

MARCOS SOUTO MAIOR 
Advogado e desembargador aposentado

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