ESSA LÚCIA HELENA É DEMAIS
O café da
manhã já estava pronto, por volta das seis horas da matina, com minha filha
caçula, Adélia, arrumando a mochila do colégio com livros, cadernos, lápis e
canetas para pegar o transporte escolar.
Horas
depois, levantei-me da cama, com a habitual preguiça, e desci pela escada da
laje me encaminhando para a mesa da cozinha. Estava bem posta, na simplicidade
do café da manhã, com bule de café, pacote de leite, açúcar, queijo de coalho e
do reino, biscoitos, bolachas e, alternadamente, cuscuz ou tapioca. Ela me deu
bom dia, diminuindo o som do seu rádio de pilhas, sintonizado no programa do
padre Marcelo Rossi. “O senhor vai querer queijo assado ou do reino?” Perguntou
Lúcia Helena.
Danado
que a maioria das mulheres não gosta de falar em idade e, tendo respeito a
elas, nunca perguntei a idade da minha “superintendente da casa”, que manda mais
que minha mulher Fabíola. Em quase duas décadas de convivência, ela manda e
desmancha na laje... Certo dia, perguntada por jornalista, aproveitando uma
entrevistara em casa, de quem seria a pessoa que dava mais problemas para ela,
não titubeou e disse: “dona Fabíola”.
No
biênio 2001/2, tempo em que exerci a presidência do Tribunal de Justiça da
Paraíba, fui alvo de várias ameaças de morte, daí ter direito a uma segurança
velada por policiais militares. E ela se entusiasmou com a responsabilidade e
presteza dos seguranças, sempre indagando ao Coronel PM Uchoa e seus Oficiais:
Marcelino, Sobreira e Sidney, os detalhes do trabalho. Em algumas vezes, exagerou,
ao sugerir novas alternâncias nas escalas de trabalho dos policiais... Até imaginei
que perderia minha fiel escudeira, em mudança de profissão, se alistando nos
quadros da Polícia Militar da Paraíba!
Cozinheira
de forno e fogão, ela tem status de “chef
de cuisine” colocando em mesa diária, variados pratos saborosos de peixes, minha
opção gastronômica, intercalado com caprichados filés alto e no ponto.
A
única coisa que brigamos foi quando inventei de mandar confeccionar fardas de
trabalho. Ao invés da saia, exigiu bermuda e o terninho trocou por um jaleco
cozinheiro, de gabardine, acinturado e com botões coberto com o tecido da peça.
Briga feia, mesmo, foi quando comprei para Lúcia Helena, uma toca especial para
adornar a cabeça, que tinha visto numa novela na TV. Para não perder de tudo,
me conformei com alegação dela que teria alergia de pano na cabeça.
A
viagem ao passado nos embala ao mundo do bem querer. Aqui termina, na PEC
66/2012, que se passou para Emenda Constitucional, e viger e alargando os
direitos e prerrogativas dos empregados domésticos, um tanto tarde para o
reconhecimento, a quem trabalha diariamente com dedicação e lealdade no nosso
próprio lar. Coisas que eu já fazia!
Lúcia
Ferreira dos Santos, natural da cidade de São Bento, alto sertão da Paraíba, idade
em segredo, com nome artístico de Lúcia Helena (imitando uma personagem de
comercial de banco, que fazia os gostos do patrão), muitíssimo obrigado por
tudo que fez e fará à família Souto Maior. Você é a minha modesta e sincera homenagem
símbolo, a todos beneficiados do direito trabalhista amplo em nosso país. Meu beijo!
MARCOS SOUTO MAIOR
Advogado e desembargador aposentado
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