JULGAMENTO DO MENSALÃO
Com direito à inclusão no dicionário inFormal, o “mensalão” vai a
julgamento nesta semana, perante a mais alta corte de justiça
brasileira, em meio à indescritível ansiedade e suspense, por tratar-se
da instância de julgamento única!
A mídia internacional
traduziu a chaga brasileira de corrupção pública como “mensalón”, “big
monthly allowance” e “vote-harping”. Chique não é?
Para ativar
a memória dos preclaros leitores, tudo começou com o pipoco do
escândalo dos Bingos, nos idos de 2004 e, um ano depois, exatamente no
dia 14 de maio de 2005, o ex-Chefe do DECAM da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos, Maurício Marinho fora flagrado numa negociação
ilícita, matéria retratada pela edição 1905 da Revista Veja.
Posteriormente, em rede nacional, o sistema Globo de Televisão divulgou
filmagem da ocorrência com ampla divulgação por toda mídia nacional e
internacional.
Depois vieram outros escândalos como a
generosidade do famoso Banco Opportunity, dita principal fonte de
abastecimento de políticos ligados ao ex-presidente Lula, com escutas
telefônicas realizadas pela Polícia Federal autorizadas pela justiça.
De quebra, surgiu na imprensa em geral, o escândalo dos fundos de
pensão do Banco do Brasil, a suposta doação de dólares de Cuba em plena
campanha de Lula, o esquema do Plano Safra Legal, a ilegal quebra do
sigilo bancário do caseiro Fracenildo e a denúncia pública do então
deputado federal Roberto Jefferson envolvendo a cúpula do Partido dos
Trabalhadores e, de modo específico, seu famoso tesoureiro Delúbio
Soares.
Mas foi o empresário Marcos Valério de Souza, com suas
agências de publicidade DNA e SMP&B quem ganhou gordos contratos de
diversos órgãos públicos na gestão petista, com inevitável envolvimento
direto do ministro da Casa Civil de Lula, o poderoso José Dirceu. Este
não resistiu às pressões e fora obrigado a pedir exoneração, sendo
substituído pela então ministra de Minas e Energia, atual presidenta
Dilma Roussef.
Findo o inquérito criminal, em abril de 2006, a
matéria fora remetida ao Procurador Geral da República, na época
Antônio Fernando Barros Silva de Souza, que subscreveu denúncia formal
contra quarenta personalidades públicas dando como incursos nos crimes
de formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, corrupção
ativa, gestão fraudulenta e evasão de divisas.
Em sessão
plenária de 28 de agosto de 2007, o Supremo Tribunal Federal recebeu
unanimemente a peça denunciativa passando a constituir processo
criminal, seguindo a fase de apresentação de defesa pelos réus.
Nas razões finais do processo, o atual procurador geral Roberto Gurgel
excluiu os réus José Janene que falecera e Silvio Pereira que fizera
acordo com o MP. Pediu ainda a absolvição do ex-ministro Luiz Gushiken e
de Antônio Lamas. Dos quarenta denunciados, restou para serem julgados
trinta e seis réus.
Pronto para o julgamento, o ministro
relator Joaquim Barbosa emitiu relatório com imediata remessa ao
revisor, ministro Ricardo Lewandowski que o aprovou.
A
intromissão indevida e desrespeitosa de Lula tentando empurrar o
julgamento do mensalão para depois das eleições municipais deste ano,
foi mais um papelão a ser encartado no livro de gafes e loucuras!
O julgamento brasileiro do século terá início nesta quinta, dia 2 de
agosto, após sete longos anos de tramitação. Os olhares arregalados da
população e as câmeras das mídias nacional e internacional registrarão a
importância histórica desta decisão final e irrecorrível.
Alea jacta est!
Advogado e desembargador aposentado
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