APERTO DE MÃOS
Em tempos de férias escolares, a turma resolveu passar final de
semana numa capital vizinha, com apenas duas horas de carro na pista.
Estudante já se sabe né? O dinheiro é sempre curto exigindo haver uma
seleção rigorosa das atrações turísticas do tempo de sol abrasador.
Logo no primeiro dia de excursão Orlando, que era funcionário
público, sugeriu que fossemos almoçar numa suculenta peixada regada a
uma “loura” estupidamente gelada.
Zélia e Leda não gostaram
da sugestão até porque não consumiam bebidas alcoólicas e, na divisão da
despesa, pagariam pelo que não consumiram.
De todo jeito,
caminhamos pela calçadinha da beira mar estirando as pernas pelo cansaço
da viagem. A poucos passos, parávamos sempre defronte das tabuletas dos
bares e casas de pastos especificando os pratos e seus valores.
Aliás, um dos restaurantes esnobou na apresentação pública de seus
pratos, com a versão em inglês, para os estrangeiros verem.
Do término da calçadinha, em meio a muitas brincadeiras, terminamos por escolher o menor preço de uma peixada ao capricho.
Inicialmente foram servidas cervejas denominadas “fiofó de foca” –
bunda congelada – para a rapaziada e, para as meninas, que não tomavam
uma birita, foram servido guaraná, laranjada e coca-cola.
Afinando o violão, Zé Leite foi logo dedilhando músicas de Ataulfo Alves
com acompanhamento tamborilado dos dedos nas mesas e as garotas
caprichando para fazer a segunda voz. A letra da música batia exato com o
pensamento de todos, quando dizia: “eu era feliz e não sabia...”
E foram cerca de seis rodadas de cervejas e refrigerantes
acompanhadas de agulhas fritas e ensopados de caranguejo, quando foi
dada a ordem de se pedir o prato principal.
Meia hora depois, o
cheiro acentuado de frituras e azeite anunciavam dois garçons chegaram
trazendo peixe inteiro frito regado a verduras, azeitonas e acompanhando
batatas fritas quentinhas, pirão e arroz.
Foi um alvoroço,
todos querendo estraçalhar os peixes, até que me propus seccionar as
laterais de cada peixe. Com faca grande e serrilhada, soltando a carne
da espinha central do peixe ficaram dois colchões, sendo um lado
branquinho e outro lado dourado pelas frituras.
Foram dias de muita alegria e harmonia entre universitários!
Contudo, a cada dia que passava, era proporcionalmente diminuída a
ração consumida, cada qual puxando o bolso da calça vazio, para provar o
liseu, era uma choradeira só.
No quinto e derradeiro dia de
farra acadêmica, na hora do almoço, a solução foi socorrer de uma
barraquinha de palha nas areias da beira mar, onde duas mesas e oito
tamboretes rústicos aguardavam os clientes. As meninas botaram cara
feita e terminaram ficando.
Tomar cerveja foi descartado
porque o consumo seria grande e o dinheiro não dava. Veio então a idéia
de se tomar cachaça e um tira gosto qualquer.
Havia pequena diferença de preços entre restaurantes e bares e a sede deixava a goela molhada engolindo a saliva no seco.
O dinheirinho não dava prá nada. A solução foi pedir a famosa caninha e a cada gole, um forte aperto de mãos.
E tome apertos de mãos a cada gole, que superavam a bebedeira, para se tornar fiel símbolo da confraternização entre amigos.
As mãos entrelaçadas fizeram-nos sentir a pulsação emocionada de cada um, tendo o sol por única e compromissada testemunha.
Advogado e desembargador aposentado
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