PERDIDO NA MULTIDÃO
MARCOS SOUTO MAIOR (*)
Do
alto da “laje”, onde me resguardo para escrever as crônicas da terça-feira olho
a imensidão do mar sem ondas e pouco vento, dava a impressão de total apatia da
mãe natureza.
O
estágio de letargia também envolve as pessoas, como se estivessem sozinhas em
meio à multidão.
A
regra geral é viver em sociedade, e o isolamento é exceção sendo possível ser saudável
quando temos uma meta a ser atingida na mudez solitária de quem procura
realização íntima.
Mais
profundo do que o silêncio é a indolência de quem se esforça em viver, sem
fazer parte desta.
Todos
nós temos sempre um diazinho que não estamos para nada de nada...
Pois
bem, sem querer querendo, amanheci calado sem direito a um bocejo que se
parecesse como forma de comunicação.
Troquei
de roupa e sai pela rua sem rumo certo terminando por entrar num shopping para
onde a maioria se dirigia.
O
ar refrigerado do conglomerado de lojas, restaurantes e diversões tem sido o
refúgio de grande número de pessoas que fogem do calor abrasador do início do
verão nordestino.
As
vitrines das lojas adornadas com alegres decorações natalinas chamavam atenção
dos passantes num convite às compras de final de ano.
Setor
público e privado soltando o décimo terceiro, sem dúvida nenhuma, desperta a
vontade de comprar algo para presentear quem gostamos.
Não
me interessei por nada das vitrines, apesar de chamar atenção as cores
vibrantes e a musicalidade apropriada pelo tilintar dos sinos de Belém.
Em
passadas mansas e cadenciadas, tive a curiosidade constatar a ausência de mendigos,
já que os seguranças empalitozados fazem a limpeza social. Quando muito fui
abordado por uma pessoa procurando endereço de loja, respondendo-lhe com um
simples balançar da cabeça, sinalizando não saber.
O
cheiro da praça da alimentação destampou involuntariamente minhas narinas,
porém, sem conseguir abrir o apetite de comer. Afinal, continuava sentindo-me um peixe fora d’água e, sem encontrar
o mar.
Serviço
de sonorização do shopping interrompe a música e anuncia uma criança que se
perdera dos pais, aguardando em local fácil do reencontro.
Chego
ao play Center onde a meninada alucinada pelos brinquedos, afoitamente, vão
gastando as fichas nos brinquedos e jogos disponíveis. A vontade da turma era
brincar até fechamento daquele mundo encantado.
O
barulho da garotada era grande, contudo, sem conseguir chamar minha atenção para prestar atenção do
que faziam.
De
repente, me vi plantado na frente do complexo de cinemas do shopping com
letreiros e fotos convidativas para algumas horas de descanso e viagem na
concentração nos filmes.
Minha
determinação era não fazer nada, simplesmente andando sem destino, para ver
aonde chegaria.
De
repente, o celular toca abusadamente. Faço de conta que não ouvi e terminei
parando lentamente e, com muita má vontade, retiro do bolso, olho para o visor
que registrava um número desconhecido. Um seco alô! quebrou minha indiferença. Do outro lado uma voz feminina
respondeu é Zezinho, é?
Tive
vontade de desligar sem nada responder. Achei falta de educação e respondi com
um sonoro não.
Aí
senti vontade de conversar com alguém. Quebrei o gelo da indiferença e fui
tomar um cafezinho com amigos que avistei. Fiz as pazes com o social.
(*) Advogado e desembargador aposentado
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