PERDIDO NA MULTIDÃO

BLOG DE WILLIAM SANTOS | 12/06/2011 09:30:00 AM | 0 comentários


                                                                                                             MARCOS SOUTO MAIOR (*)
                                   Do alto da “laje”, onde me resguardo para escrever as crônicas da terça-feira olho a imensidão do mar sem ondas e pouco vento, dava a impressão de total apatia da mãe natureza.
                                   O estágio de letargia também envolve as pessoas, como se estivessem sozinhas em meio à multidão.
                                   A regra geral é viver em sociedade, e o isolamento é exceção sendo possível ser saudável quando temos uma meta a ser atingida na mudez solitária de quem procura realização íntima.
                                   Mais profundo do que o silêncio é a indolência de quem se esforça em viver, sem fazer parte desta.
                                   Todos nós temos sempre um diazinho que não estamos para nada de nada...
                                   Pois bem, sem querer querendo, amanheci calado sem direito a um bocejo que se parecesse como forma de comunicação.
                                   Troquei de roupa e sai pela rua sem rumo certo terminando por entrar num shopping para onde a maioria se dirigia.
                                   O ar refrigerado do conglomerado de lojas, restaurantes e diversões tem sido o refúgio de grande número de pessoas que fogem do calor abrasador do início do verão nordestino.
                                   As vitrines das lojas adornadas com alegres decorações natalinas chamavam atenção dos passantes num convite às compras de final de ano.
                                   Setor público e privado soltando o décimo terceiro, sem dúvida nenhuma, desperta a vontade de comprar algo para presentear quem gostamos.
                                   Não me interessei por nada das vitrines, apesar de chamar atenção as cores vibrantes e a musicalidade apropriada pelo tilintar dos sinos de Belém.
                                   Em passadas mansas e cadenciadas, tive a curiosidade constatar a ausência de mendigos, já que os seguranças empalitozados fazem a limpeza social. Quando muito fui abordado por uma pessoa procurando endereço de loja, respondendo-lhe com um simples balançar da cabeça, sinalizando não saber.
                                   O cheiro da praça da alimentação destampou involuntariamente minhas narinas, porém, sem conseguir abrir o apetite de comer. Afinal, continuava  sentindo-me um peixe fora d’água e, sem encontrar o mar.
                                   Serviço de sonorização do shopping interrompe a música e anuncia uma criança que se perdera dos pais, aguardando em local fácil do reencontro.
                                   Chego ao play Center onde a meninada alucinada pelos brinquedos, afoitamente, vão gastando as fichas nos brinquedos e jogos disponíveis. A vontade da turma era brincar até fechamento daquele mundo encantado.
                                   O barulho da garotada era grande, contudo, sem conseguir  chamar minha atenção para prestar atenção do que faziam.
                                   De repente, me vi plantado na frente do complexo de cinemas do shopping com letreiros e fotos convidativas para algumas horas de descanso e viagem na concentração nos filmes.
                                   Minha determinação era não fazer nada, simplesmente andando sem destino, para ver aonde chegaria.
                                   De repente, o celular toca abusadamente. Faço de conta que não ouvi e terminei parando lentamente e, com muita má vontade, retiro do bolso, olho para o visor que registrava um número desconhecido. Um seco alô! quebrou minha indiferença. Do outro lado uma voz feminina respondeu é Zezinho, é?
                                   Tive vontade de desligar sem nada responder. Achei falta de educação e respondi com um sonoro não.
                                   Aí senti vontade de conversar com alguém. Quebrei o gelo da indiferença e fui tomar um cafezinho com amigos que avistei. Fiz as pazes com o social.
                                                         (*) Advogado e desembargador aposentado
                                     
                                    
                                    

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