Francisco Julião e Agassiz Almeida recebem o reconhecimento histórico de Câmaras de Vereadores.
“A libertação dos camponeses foi
conquistada com sangue, suor e mortes”
De acordo com o projeto de nível nacional de Resgate e Memória para a
História do país de personalidades que resistiram à Ditadura Militar de 64,
cujas vidas se incorporaram aos movimentos políticos sociais,como
Carlos Marighella, Djalma Maranhão, Seixas Dória , Gregório Bezerra, Clodomir
Morais, João Pedro Teixeira, Pedro Fazendeiro, Carlos Lamarca, a Câmara de
Vereadores de Guarabira, PB, reunida em caráter especial e atendendo à propositura do vereador Beto Meireles,
concedeu aos ex-deputados federais e
escritores Agassiz Almeida e Francisco Julião, este “in memoriam,” a medalha Dom
Marcelo Carvalheira .
Com o auditório da Câmara
de Vereadores completamente lotado e a participação de representativos nomes da
sociedade paraibana, que integraram a Mesa
da sessão, entre os quais Alexandre Eduardo, secretario adjunto da Secretária de Agricultura, representando o Governador
Ricardo Coutinho, o juiz de direito Antônio Amaral, Laura Aquino, em nome da família de Osmar de Aquino, e
Agassiz Almeida Filho , representando a UEPB, além do sociólogo Anacleto Julião,
filho do homenageado Francisco Julião, Guarabira viveu movimentada solenidade .
Antes, em dias
anteriores, as Câmaras de Vereadores de
Sapé e Mari, PB, realizaram sessões homenageando estas lideranças históricas.
Discurso aguardado com interesse
por sua vinculação às lutas políticas de Guarabira, Agassiz Almeida recordou os
seus laços políticos e de amizade com Osmar de Aquino, deputado constituinte de
1947, como Agassiz o fora em 1988. Prosseguindo, acentuou o orador: “A
abolição dos escravos, em 13 de maio de 1888, veio da pena de uma princesa; a
libertação dos camponeses, 70 anos depois, foi conquistada com sangue, suor e
mortes, após a criação das Ligas
Camponesas de 1954 e 1958, na Galiléia, PE, e em Sapé, PB.
“Foi em Sapé e na Galiléia, em Vitória de Santo Antão que,
há mais de meio século, as Ligas Camponesas nasceram, cresceram e estenderam este grito de
libertação para o Brasil: O camponês não será mais escravo de ninguém.
“Aqui, nesta região, mobilizou-se na segunda
metade do século XX o mais vigoroso movimento de massa camponesa da América
Latina.
O que nos falam aqueles 50
anos passados? Homens rudes e simples, às centenas, carregados de sofrimentos,
marchavam para se libertar de quatro séculos de latifúndio.
- Para onde ides camponeses ?- Gritou um
sacerdote.
- Vamos lutar pela liberdade e por terras para
trabalhar.
Há
na vida dos povos, como na dos homens, momentos de inspiração soberana. Vi,
nesta região, multidões de camponeses carregarem o vigor das grandes
indignações .
Imaginai as ruas e campos
destas regiões cinqüenta anos atrás. Camponeses, às centenas, condenados a uma forma de vida
pior do que a escravidão . Faces
descarnadas e pálidas. Olhares temerosos. Passos trôpegos. Semblantes a
estamparem velhice precoce, em corpos esquálidos e famélicos.
Como encontramos o
camponês nas várzeas férteis do Nordeste? Num cenário desolador. Crianças em
torno de 8 a
10 anos arrastadas ao eito da cana-de-açúcar , jovens envelhecidos aos 20
anos. Aos 30, abatidos pela morte.
Que tarefa nos impusemos!
Primeiro, derrotamos esta
cultura da passividade cruel: “Deus quis assim.” Depois, vencemos o medo do
latifúndio. Por fim, apontamos aos camponeses que eles precisavam lutar pelos
seus direitos e por terra para trabalhar. Esta foi, decerto, a revolução
camponesa que desencandeamos.
Que drama de profunda dimensão!
Legiões de campesinos egressos de pesadas iniqüidades que séculos de opressão lhes
lançaram, gritavam por liberdade .”
Com a palavra, o sociólogo Anacleto Julião destacou: “Francisco
Julião e Agassiz Almeida, ao lado de outras lideranças, fizeram a revolução camponesa no
Brasil, cujo grande objetivo foi, sem
dúvida, romper quatro séculos de
opressão latifundiária. Depois deste movimento revolucionário, o camponês se investiu
na condição de cidadão, com direitos e deveres”.
Em Sapé, durante a
sessão da Câmara de Vereadores reunida com o mesmo propósito de homenagear aqueles vultos históricos, Anatólio Julião,
representando seu pai, em brilhante discurso exaltou o relevante papel que desempenharam Francisco
Julião e Agassiz Almeida ao desafiar as
forças latifundiárias no Nordeste, e
apontar aos milhares de camponeses os
caminhos da liberdade.
Encerrando a sessão, o vereador Beto Meireles,
liderança vigorosa e renovadora de
Guarabira, relembrou a importância para a história das lutas camponesas no
Brasil de personalidades como as de Francisco Julião, Agassiz Almeida, João Pedro Teixeira, Gregório
Bezerra, Pedro Fazendeiro e Clodomir Moraes .
Da Editoria/Blog
Com Centro de referência
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