TREM DE BRINCADEIRA
Enquanto menino de
calças curtas saia de casa sem avisar, ultrapassava apenas um quarteirão de
casas e lá encontrava os trilhos deitados em dormentes de madeira, que ligava o
centro da cidade a bela praia de Tambaú, aguardando a vinda do bonde urbano elétrico da cidade de João
Pessoa.
Por sua vez, aquele transporte público era alimentado
por um longo braço de ferro que ligava o motor da frágil máquina com os fios
dependurados por possantes postes. A estrutura era montada em cima de dois
longos conjuntos de rodas de ferro que se encaixavam nos trilhos e a energia se
encarregava de impulsionar. Ao redor da composição havia três batentes de madeira
para as pessoas poderem acessar o patamar de cima, os toscos bancos de madeira.
Tratava-se de uma composição aberta, havia puxadores laterais que iam desde o
último degrau até o teto coberto por folhas de zinco pintadas.
Além da autoridade do motorneiro, fardado e
com chapéu quepe, a máquina de ferro e madeira tinha também um cobrador que
recolhia numa sacola de couro o dinheiro, do valor respectivo do trecho a ser
cumprido. A buzina da máquina se resumia às cordas de náilon postadas dos dois
lados do conjunto de cadeiras, no tilintar de um pequeno sino, e outro nos pés
do motorneiro que, nem sempre era ouvido pelos carros antigos da época. Muitas
barruadas aconteceram, contudo, sem maiores desgastes dos veículos e
insignificantes ferimentos!
Nesse
contexto, era aí que o garotão magro e de pernas finas, calçado por artesanais
alpercatas de solado de borracha de pneu ficava atento na parada do bonde
elétrico urbano perto de casa. Logo que é dada a partida, sem dinheiro,
apressava os passos e subia no lado em que o cobrador não estava. Quando era
flagrado do lado oposto aí virava uma competição, a passos largos onde o menino
sempre ganhava à parada. Depois de saltar em movimento, o garoto ficava
esperando para a volta triunfal do regresso a casa.
Muitas
vezes, chegava alegre pelo passeio proibido, já tarde em casa e, sem desculpa
aceitável, o pau comia com boas chineladas e cinturãozadas dos pais!
Hoje,
temos em curso um novo e moderno bonde, também chamado de trem-bala
entre cidades importantes do mundo, como Tokyo, Londres, Paris e tantas outras
encurtando as distâncias com velocidade de bala, mesmo!
No
nosso irrequieto Brasil, depois de várias suspensões do leilão internacional
organizado pelo Governo Federal, agora o TAV – Trem de Alta Velocidade submete-se a adiamento por prazo
indeterminado, congelando o desembolso de verba pública em cerca de 80 milhões
de reais. Os motivos do fracasso são resumidos na falta de organização,
legalidade, impessoalidade, moralidade, transparência, prudência e,
operacionalidade.
Nosso
trem-bala nem chegou e já sumiu dos trilhos!
Ainda bem que retenho na memória o saudoso bonde feliz da meninada dos anos cinquenta e sessenta, a quem saúdo alegre, sem
a certeza de poderem acreditar nas coisas do governo!
MARCOS SOUTO MAIOR
Advogado e desembargador aposentado
Category:
0 comentários