INTIMIDADE

BLOG DE WILLIAM SANTOS | 7/24/2012 02:29:00 PM | 0 comentários

As coisas eram complicadas demais para a rapaziada de décadas passadas encostar-se a uma menina bonita e de corpo escultural. Sim, embora sob o seu corpo fosse coberto desde o sutiã, passando pela calcinha e, ainda por cima vinham outras indumentárias íntimas, a depender do corpo da jovem, a curiosidade era grande.
Se ela fosse gordinha, aí seriam indispensáveis instrumentos que mais se pareciam com equipamentos de soldados em guerra, ou jogadores do futebol americano. Tudo era apertado ao máximo desde a gordurinha da barriga, do bumbum e dos peitos. O sutiã era o primeiro a ser armado, também chamado de “califon”, em seguida era implantado o espartilho, depois vinha o corpete e, mais abaixo as cintas-ligas, ou mesmo, o caleçon uma espécie de calçinhas, de vários tipos, que sustentavam as ligas e estas, as meias compridas.
Para as magrelas, aí o enchimento era grande, vindo a tradicional combinação, depois a saia armada com muita goma e, finalmente, anágua envolvida na cola branca da goma que deixava a saia rodada, parecida com armação dos vestidos das baianas de escolas de samba.
Tinha até uma vizinha minha que era tão magra, mas tão esquelética que se diziam, na época, que ela tinha uma bunda de algodão bem amarrado na traseira, sob o respeito da garotada que olhava detidamente, comentando às escondidas, sem menor perigo de qualquer marmanjo se encostar ou catucá-la. O respeito era total!
As famílias constituídas eram consideradas em todos os sentidos, havendo uma proteção, principalmente para as meninas, que eram tidas como frágeis, aí a complexidade para manter um bom papo. Aliás, se utilizava o nome composto de “menina de família” como se houvessem outras que nasceram em chocadeiras...
Tento explicar: as jovens rotuladas “de família” eram mantidas com aparato exagerado, sendo originárias de famílias abastadas, ostentando pomposos sobrenomes e, tradicionalmente, respeitadas pelo poderio econômico, financeiro, religioso e político.
Naqueles tempos sinais de riquezas seria possuir um carrão importado, porque não havia veículos fabricados no nosso país; casa no centro da cidade e outra em praia nordestina, em tempo da tradicional temporada de veraneio; andar bem vestido e estudar em colégio particular, de preferência de padres, irmãos maristas ou pastores evangélicos.
Intimidade era atitude absolutamente proibida pelas famílias, e uma simples piscada de olho, era motivo para se considerar namorico de primeira viagem!
Na praça central da cidade, passávamos à noite para saber onde haveria festa de quinze anos ou “assustados”, festinhas ao som de hifi, marcando o ritmo da dança, com as meninas “botando macaquinho”. Tal cuidado consistia nas meninas dançarem a
uma certa distância e, por segurança, apertava suavemente a sua mão direita com a do rapaz e a outra mão apoiava no ombro do jovem, para evitar qualquer tentativa de colar os corpos.
Um amigo de juventude me fazia queixas sobre o espaço imposto por sua namorada, com uma distância dos corpos dando para atravessar com um patinete.
“Amigo, quando tento me encostar em Letícia eu só sinto o rangido das saias que ela usa, umas por cima das outras”, protestou Marnilson.
Namorar em casa significava um profundo processo seletivo familiar, para conhecer o histórico do cara, com hora para iniciar e terminando as vinte e uma horas. Entrar em casa, nem falar, a ordem era conversar no portão da casa...
O jeitinho brasileiro de driblar a vigilância levava muitos jovens a pedir licença para ir ao banheiro, o que significava segura intimidade no namoro!
Afinal, a intimidade nunca foi fácil para os jovens da minha época, entretanto, tudo era resolvido pela mais viva imaginação. 

MARCOS SOUTO MAIOR
Advogado e desembargador aposentado


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