CONVENÇÕES MUNICIPAIS

BLOG DE WILLIAM SANTOS | 6/21/2012 03:15:00 PM | 0 comentários

As eleições municipais são as mais animadas e também mais complicadas, pelo fato do povo participar diretamente. Além de conhecer pessoalmente os candidatos, de o eleitor integrar a festa cívica como se fosse um jogo de futebol: a paixão é a mesma!
Nos anos setenta, em pleno poder do mando militar, o partido conservador denominado, ARENA – Aliança Renovadora Nacional, teve excesso de filiados, e o pior é que num mesmo município haviam dois blocos políticos apoiando a ditadura.
A solução foi inventar a ARENA-2, uma espécie de “time reserva” da política municipal, ambos enfrentando o MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Danado é que todos queriam ficar no “time titular”.
Havia convenções partidárias da ARENA-1 e da ARENA-2, sem necessariamente que a primeira fosse mais forte que a segunda.
Meu amigo e deputado estadual Ernesto era bem votado em vários municípios e aproveitava a festa das convenções para participar de uma farra com as meninas da redondeza, o que varava a madrugada.
“Querida, estou cansado da política, mas tenho que ir, você sabe né?”. E, de paletó e gravata, entrava no carro, dando um “adeusinho” falso tocava o carro prá frente.
A comadre Alice era ciumenta e fizera a listagem das cidades onde haveria a convenção municipal. E, desta vez, em final de campanha, não tinha mais convenção nenhuma, o pretexto era a farra animada!
A dúvida tomou conta e, na falta dos celulares que hoje infernizam os maridos, a mulher danou-se a telefonar para tudo quanto era canto. Como no local anunciado os telefones fixos do prefeito, do vice e dos vereadores mais chegados estavam “fora do gancho”, dona Alice resolveu ligar para a Delegacia de Polícia para ter notícias da festança.
A resposta não fora a que ela desejava ouvir: “Minha senhora, pelo que sei, não tem convenção mais não. Já houve duas Arenas e do MDB.”.
Regressando para casa, lá pelas quatro da manhã, o nosso herói achou estranha todas as luzes da casa acesas.
Mas não fez “pantim”, mantendo o impecável paletó, gravata e a pasta zero sete abarrotada de propaganda política abriu o portão ruidoso e lá dentro a porta era também aberta pela madame. “Onde você estava todo esse tempo?” indagou a mulher.
Afrouxando o nó da gravata retrucou: “Licinha, estava no interior nessas convenções que me deixam cansado...”.
Aí o pau comeu, a mulher, sentindo-se traída, tudo quanto era nome feio passou, na cara do deputado, que se manteve calmo, atravessou o terraço e entrando na sala de jantar. Lá tirou o paletó e a gravata, pausadamente, colocando-as no encosto de uma cadeira.
A ladainha de impropérios continuava com o deputado na frente e a mulher de dedo em riste batendo como quem bate em mala velha de viagem!
Entrando no quarto do casal, somente uma saída de emergência: a porta do banheiro. Apressou os passos e entrou no banheiro, mas a mulher vinha na cola falando sem parar.
Encurralado, Ernesto não teve outra saída e perguntou: “Afinal de contas, com quem mesmo você está falando”?
Por via das dúvidas, o deputado dormiu com um olho aberto e, o outro fechado. Deu zebra na convenção, mas seus candidatos foram eleitos. 

MARCOS SOUTO MAIOR 
Advogado e desembargador aposentado

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