CONVENÇÕES MUNICIPAIS
As eleições municipais são as mais animadas e também mais
complicadas, pelo fato do povo participar diretamente. Além de conhecer
pessoalmente os candidatos, de o eleitor integrar a festa cívica como se
fosse um jogo de futebol: a paixão é a mesma!
Nos anos
setenta, em pleno poder do mando militar, o partido conservador
denominado, ARENA – Aliança Renovadora Nacional, teve excesso de
filiados, e o pior é que num mesmo município haviam dois blocos
políticos apoiando a ditadura.
A solução foi inventar a
ARENA-2, uma espécie de “time reserva” da política municipal, ambos
enfrentando o MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Danado é que todos
queriam ficar no “time titular”.
Havia convenções partidárias da ARENA-1 e da ARENA-2, sem necessariamente que a primeira fosse mais forte que a segunda.
Meu amigo e deputado estadual Ernesto era bem votado em vários
municípios e aproveitava a festa das convenções para participar de uma
farra com as meninas da redondeza, o que varava a madrugada.
“Querida, estou cansado da política, mas tenho que ir, você sabe né?”.
E, de paletó e gravata, entrava no carro, dando um “adeusinho” falso
tocava o carro prá frente.
A comadre Alice era ciumenta e
fizera a listagem das cidades onde haveria a convenção municipal. E,
desta vez, em final de campanha, não tinha mais convenção nenhuma, o
pretexto era a farra animada!
A dúvida tomou conta e, na
falta dos celulares que hoje infernizam os maridos, a mulher danou-se a
telefonar para tudo quanto era canto. Como no local anunciado os
telefones fixos do prefeito, do vice e dos vereadores mais chegados
estavam “fora do gancho”, dona Alice resolveu ligar para a Delegacia de
Polícia para ter notícias da festança.
A resposta não fora a
que ela desejava ouvir: “Minha senhora, pelo que sei, não tem convenção
mais não. Já houve duas Arenas e do MDB.”.
Regressando para casa, lá pelas quatro da manhã, o nosso herói achou estranha todas as luzes da casa acesas.
Mas não fez “pantim”, mantendo o impecável paletó, gravata e a pasta
zero sete abarrotada de propaganda política abriu o portão ruidoso e lá
dentro a porta era também aberta pela madame. “Onde você estava todo
esse tempo?” indagou a mulher.
Afrouxando o nó da gravata retrucou: “Licinha, estava no interior nessas convenções que me deixam cansado...”.
Aí o pau comeu, a mulher, sentindo-se traída, tudo quanto era nome
feio passou, na cara do deputado, que se manteve calmo, atravessou o
terraço e entrando na sala de jantar. Lá tirou o paletó e a gravata,
pausadamente, colocando-as no encosto de uma cadeira.
A
ladainha de impropérios continuava com o deputado na frente e a mulher
de dedo em riste batendo como quem bate em mala velha de viagem!
Entrando no quarto do casal, somente uma saída de emergência: a porta
do banheiro. Apressou os passos e entrou no banheiro, mas a mulher vinha
na cola falando sem parar.
Encurralado, Ernesto não teve outra saída e perguntou: “Afinal de contas, com quem mesmo você está falando”?
Por via das dúvidas, o deputado dormiu com um olho aberto e, o outro
fechado. Deu zebra na convenção, mas seus candidatos foram eleitos.
Advogado e desembargador aposentado
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