BRINCANDO COM A POUPANÇA

BLOG DE WILLIAM SANTOS | 5/08/2012 11:53:00 AM | 0 comentários

Nesse final de semana, chego à fazenda do meu sogro Hermano, porque gosto de animais e daquele cheiro de natureza que a cidade grande não tem.
O sol vai se escondendo devagarzinho, dando sinal para o término dos trabalhos de agricultura e pecuária, com os trabalhadores arrumando seus instrumentos.
Aproximei-me do vaqueiro Ricardo que retirava arreios, cela e bridão do seu cavalo “Pensamento” e, enquanto escovava a crina da montaria me perguntou: “dotô eu tenho uma poupancinha mixuruca e o gunverno tá querendo ficar com um pedaço. O sinhô sabe dizer?”
Não esperava pergunta tão complicada. Fiquei meio confuso, até porque, honestamente, quanto mais o ministro Mantega aparece na TV, com cara de bolacha redonda, para tentar explicar o corte da remuneração das poupanças, eu tenho mais dúvidas.
Essa pergunta do vaqueiro me faz lembrar os resultados do desastroso e inesquecível “plano Collor”, organizado pela falante ex-ministra Zélia Cardoso.
O rendimento da poupança era de 6,17% ao ano, o que significa dizer míseros 0,5% ao mês, com uma inflação cinco vezes mais, com única vantagem de não pagar impostos nem taxas.
Para tirar um pedaço das economias do povo, o governo Dilma continua usando e abusando de utilizar Medidas Provisórias, que vêm a ser primas carnais do extinto Decreto-lei e imitando seu antecessor.
Só está faltando mesmo é o anúncio de confisco da desvalida poupança brasileira, pesadelo que se mantém aceso quando mexem no único meio de evitar a desvalorização da nossa moeda.
Resumo da ópera bufa: a mudança da remuneração da poupança seria medida técnica para baixar os escorchantes juros praticados pelos ricos banqueiros deste país verde-amarelo.
Como tem acontecido nesse mundo desigual, para que os banqueiros baixem os valores dos juros praticados pela velha poupança a população enganada sofre as consequências da sua desvalorização.
O vaqueiro Ricardo, desolado, só vai entender e sentir essa injusta Medida Provisória daqui a um mês, quando o sistema estiver praticando o novo modelo. Até porque SELIC poderia ser o nome de novo potro da fazenda...
Nem mesmo o período pré-eleitoral em curso fora levado em conta para previsão do impacto, na base popular do país. A ânsia imprudente de igualar os juros internacionais com os nossos e o complicado equilíbrio do câmbio sobrou para a poupança popular que pagará com a diminuição da pequena remuneração praticada até então.
Permito-me utilizar da palavra mágica inventada pelo ex-ministro do Trabalho, sindicalista Antônio Rogério Magri, nos idos de 1990, quando bradou em plenos pulmões, o neologismo “o plano Collor é IMEXÍVEL”, o que seria justa a extensão à poupança do povo, no protesto dos esquecidos.
Poupança é coisa séria para o povo! Brincar com ela não é o melhor caminho para tapar o sol com a peneira dos juros praticados no Brasil e se equiparar aos valores internacionais. 

MARCOS SOUTO MAIOR 
Advogado e desembargador aposentado

Category:

0 comentários