BRINCANDO COM A POUPANÇA
Nesse final de semana, chego à fazenda do meu sogro Hermano,
porque gosto de animais e daquele cheiro de natureza que a cidade grande
não tem.
O sol vai se escondendo devagarzinho, dando sinal
para o término dos trabalhos de agricultura e pecuária, com os
trabalhadores arrumando seus instrumentos.
Aproximei-me do
vaqueiro Ricardo que retirava arreios, cela e bridão do seu cavalo
“Pensamento” e, enquanto escovava a crina da montaria me perguntou:
“dotô eu tenho uma poupancinha mixuruca e o gunverno tá querendo ficar
com um pedaço. O sinhô sabe dizer?”
Não esperava pergunta
tão complicada. Fiquei meio confuso, até porque, honestamente, quanto
mais o ministro Mantega aparece na TV, com cara de bolacha redonda, para
tentar explicar o corte da remuneração das poupanças, eu tenho mais
dúvidas.
Essa pergunta do vaqueiro me faz lembrar os
resultados do desastroso e inesquecível “plano Collor”, organizado pela
falante ex-ministra Zélia Cardoso.
O rendimento da poupança
era de 6,17% ao ano, o que significa dizer míseros 0,5% ao mês, com uma
inflação cinco vezes mais, com única vantagem de não pagar impostos nem
taxas.
Para tirar um pedaço das economias do povo, o governo
Dilma continua usando e abusando de utilizar Medidas Provisórias, que
vêm a ser primas carnais do extinto Decreto-lei e imitando seu
antecessor.
Só está faltando mesmo é o anúncio de confisco da
desvalida poupança brasileira, pesadelo que se mantém aceso quando
mexem no único meio de evitar a desvalorização da nossa moeda.
Resumo da ópera bufa: a mudança da remuneração da poupança seria medida
técnica para baixar os escorchantes juros praticados pelos ricos
banqueiros deste país verde-amarelo.
Como tem acontecido nesse
mundo desigual, para que os banqueiros baixem os valores dos juros
praticados pela velha poupança a população enganada sofre as
consequências da sua desvalorização.
O vaqueiro Ricardo,
desolado, só vai entender e sentir essa injusta Medida Provisória daqui a
um mês, quando o sistema estiver praticando o novo modelo. Até porque
SELIC poderia ser o nome de novo potro da fazenda...
Nem
mesmo o período pré-eleitoral em curso fora levado em conta para
previsão do impacto, na base popular do país. A ânsia imprudente de
igualar os juros internacionais com os nossos e o complicado equilíbrio
do câmbio sobrou para a poupança popular que pagará com a diminuição da
pequena remuneração praticada até então.
Permito-me utilizar
da palavra mágica inventada pelo ex-ministro do Trabalho, sindicalista
Antônio Rogério Magri, nos idos de 1990, quando bradou em plenos
pulmões, o neologismo “o plano Collor é IMEXÍVEL”, o que seria justa a
extensão à poupança do povo, no protesto dos esquecidos.
Poupança é coisa séria para o povo! Brincar com ela não é o melhor
caminho para tapar o sol com a peneira dos juros praticados no Brasil e
se equiparar aos valores internacionais.
Advogado e desembargador aposentado
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